Advogando nos EUA - 6 ANOS DEPOIS


Olá pessoal,

Tanto tempo sem postar por aqui, tinha quase esquecido da minha vida de estudante-blogueira.  Pra quem seguia meu blog, ou ainda tem curiosidade em saber da minha trajetória nos EUA, um pequeno update: continuo advogando no Texas, e a carreira continua de vento em popa.

Para os que não sabem do que estou falando, segue um pequeno resumo.  Sempre sonhei em advogar nos Estados Unidos, e em 2012 me mudei de João Pessoa (Paraíba – sim, sou nordestina da gema), para o Texas para fazer meu Mestrado em direito internacional pela Southern Methodist University.  Após concluir meu mestrado, resolvi ficar em Dallas e aplicar para o J.D. (que seria o equivalente ao nosso curso de direito no Brasil).  Na verdade, esse é o caminho de maior credibilidade para o mercado americano tanto em termos de atuação como advogado em escritório, quanto para os que desejam atuar como profissionais liberais.

Eu sempre recomendarei fazer o curso completo de J.D. quando ter o poder de assinar como advogado nos EUA for o objetivo da pessoa que se perguntar “como posso advogar nos EUA?”.  Estudar direito novamente requereu tempo e um esforço enorme, mas não me arrependo por um segundo de ter feito o curso novamente.

Como falei, o J.D. é o caminho tradicional para habilitar ao exercício da advocacia em qualquer um dos 50 estados americanos.  O J.D. possui as seguintes características:

1.   Curso de 3 a 4 anos de duração (full time) - (i.e., 1L, 2L e 3L years);
2.   O estudante deve ter dedicação exclusiva aos estudos (padrão);
3.    Investimento de 60 a 180 mil dólares americanos (depende do ranking da escola e da localidade).

Um pequeno recap (para os que estão se perguntando) sobre a admissão nas universidades. Os critérios de admissão dependem de cada instituição. Seguem alguns critérios comuns em vários Colleges e Universities que oferecem o J.D.:
  • Ter feito um curso superior anterior de 4 anos ou mais antes de ingressar numa escola de direito americano;
  • Ter realizado o exame LSAT;
  • Ter boas notas em curso superior anterior (exemplo, o "LL.M" ou outro bachelor's degree);
  • Comprovar domínio do inglês;
  • Atender aos critérios próprios da instituição a qual você está se candidatando. 

Você, advogado brasileiro formado no Brasil, poderá fazer o J.D. caso cumpra os requisitos de uma escola de direito, como a SMU, e seja nela admitido.  O processo de candidatar-se a uma vaga chama-se Application e, por favor, não traduza a palavra "application" como aplicação porque o significado semanticamente falando é diferente.  A tradução semântica de application para o português, nesse caso, é inscrição ou candidatura.

Ademais, você precisará fazer um exame padronizado de inglês como o Toefl ou Ielts para suprir os critérios do idioma. A maioria das instituições solicitam o Toefl com nota igual ou superior 100 (versão de computador de escala de 0 a 120).  Ressalto também que, além de ter um investimento alto, média de 100 mil dólares, o J.D. possui rigorosos critérios para conclusão.  Você só conquistará a formação se mantiver um rendimento acadêmico adequado e poderá até mesmo ser desligado do college ou university que estiver estudando se suas notas não forem boas.  Vale saber também que o ano mais importante – para os que querem conseguir uma vaga nos melhores e maiores escritórios de advocacia  nos EUA – é o primeiro ano escolar (o “1L” year).  Normalmente, seu CRE (ou “GPA”) deve se enquadrar nos top “25%” da classe (entre de 3.3 - 4.0) para conseguir uma entrevista com tais escritórios através do OCI (On Campus Interviews).  É muito trabalho e são muitas horas de estudo, mas o resultado vale a pena! Pessoalmente, consegui entrevista com mais de 20 escritórios, dentre os quais o que trabalho hoje, e deu para pesquisar bastante o tipo de área em que gostaria de atuar.  Aceitei uma oferta de estágio ao fim do meu 1L year, e estagiei para o meu escritório um ano depois (geralmente funciona assim: você entrevista no seu 1L year, e estagia no seu 2L year).  Como estagiária, te pagam o salário de um advogado associado com apenas 1 ano de experiência (por volta de 16 mil dólares ao mês, se você trabalhar para um escritório "big law").  Se gostarem do seu trabalho, e você do escritório, você recebe uma oferta de trabalho permanente para voltar após a sua formatura – isso mesmo, mesmo antes de se formar, você já terá um emprego garantido esperando por você.

E assim cheguei aqui.  Fiz o “BAR Exam” após a minha formatura em 2015, e comecei a trabalhar full-time em 2016.  Para os que não sabem, o exame americano equivalente ao exame da OAB no Brasil é o Bar exam.  O Bar Exam é realizado individualmente por estado e cada um dos 50 estados possui total discricionariedade para determinar suas características e especificidades. Essa é uma grande diferença em relação Brasil que possui um exame nacional único e integrado.  O motivo é bem simples: os Estados Unidos são de fato uma federação e as leis cotidianas em sua maioria são definidas no âmbito estadual e não no âmbito federal como ocorre no Brasil.  Essa característica acaba estabelecendo diferentes ambientes jurídicos em cada um dos 50 estados. Então ao passar no exame e preencher os demais critérios, você será advogado no estado no qual for aprovado no exame de ordem, Bar exam.  No meu caso, sou "licenciada" no estado do Texas.

Ademais, o advogado aprovado no Bar exam de um estado pode atuar em outros estados em condições especiais e específicas de reciprocidade.  Para os que desejarem saber mais sobrem o assunto, visite A Comprehensive Guide to Bar Reciprocity: What States Have Reciprocity for Lawyers and Allow You to Waive into the Bar.

Voltando ao mundo real, pode ser trabalhoso, difícil e complexo, mas é possível.  Foram árduas horas de estudo, mas hoje sou uma mulher e profissional realizada.  Trabalho na área de direito internacional comercial, especificamente com empresas americanas que querem expandir para o exterior, ou brasileiras que querem investir no mercado americano.  Trabalho com licenças comerciais, contratos de distribuição internacional, franquias (hoteleiras, alimentícias, etc.), e de vez em quando trabalho com clientes que investem no Brasil de forma que consigo utilizar a minha OAB brasileira. Tudo isso, depois de largar tudo perto do mar, e vir criar raízes aqui na terrinha do tio Sam.

Resolvi postar hoje (depois de tanto tempo) porque recentemente li um blog de uma brasileira que advoga nos EUA e ela comenta como trabalhar nos EUA requer que você abdique dos seus hobbies e realize árduas tarefas de rotina diariamente (tipo longas areas de trabalho).   De fato, a advocacia aqui não é fácil.  Trabalho bastante (em breve farei outro post descrevendo as horas de trabalho e outras tarefas "extracurriculares" que sempre temos que participar) e as vezes tenho que abrir mão de uma viagem ou outra, mas não tenho satisfação maior em fazer o que faço.  Sinto falta das festas, das praias, de pegar o carro e ir à Praia da Pipa a qualquer hora, mas escolhi essa carreira por um motivo. Sempre soube o que queria fazer, e fui lá e fiz.

Para os que acham que é difícil ou impossível, apague da sua cabeça o trecho fácil, automático e garantido porque somente com investimento humano, dedicação acima do normal e tempo (alguns anos) é que seu sonho pode se tornar realidade.  É possível chegar aqui, mas não em pouco tempo, não sem força de vontade, e definitivamente não com atalhos. Não há solução mágica nem caminho garantido.  Você terá que fazer um grande investimento sem nenhuma garantia de sucesso (sim, eu fiz isso também!).  As lendas urbanas como “é só fazer um mestrado americano qualquer que posso advogar nos EUA” acabam por iludir muitas pessoas, mas as coisas não são tão simples assim.  

O salário acima de 150 mil dólares anuais, por exemplo, pode ser conquistado com maior probabilidade quando se conclui o curso completo de direito americano com excelência.  Lembre-se que o caminho de cursar um L.LM. para se tornar advogado nos estados onde isso é permitido dificilmente lhe colocará em uma situação de competição de igual para igual com alguém que tenha concluído o J.D. (dá uma olhada nos meus posts anteriores sobre cada curso, e cada caminho disponível).  Aos que quiserem ter acesso ao meu dia-à-dia (às vezes posto fotos do escritório, da cidade e do meu cotidiano advogando), deem uma olhada no meu instigaram:

 @uanna 

De qualquer forma, desejo todo sucesso, e digo que entre em ação hoje para alcançar os seus objetivos sejam eles quais forem. Sair da inércia é crucial, portanto, sugiro que tire o "bumbum" da cadeira comece hoje mesmo!

BEST OF LUCK, Always!

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Uanna


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